O Futuro Chama-se Velhice


 

A vida passa mais rápido do que imaginamos. Um dia você está correndo atrás de sonhos com o corpo cheio de energia; no outro, percebe que o fôlego já não é o mesmo, que o espelho devolve uma imagem que você demora a reconhecer e que o mundo começa a tratar você de forma diferente.

O futuro que parecia distante tem um nome certo: velhice. E ela chega para todos que têm a sorte de viver o suficiente. Não se iluda: a juventude não é um estado permanente, é apenas uma fase. A força, a beleza, a rapidez, a memória infalível, o desejo ardente - tudo isso tem data de validade.

Quem nega isso paga caro. Já vi homens e mulheres de setenta, oitenta anos tentando provar que “ainda aguentam”, que “idade é só número”. Subiram escadas correndo, dirigiram de madrugada depois de beber, insistiram em carregar peso demais, recusaram a bengala, rejeitaram o remédio para o coração “porque ainda sou forte”.

Muitos não voltaram para casa. Outros voltaram, mas quebrados, dependentes, com o orgulho em pedaços. Envelhecer não é crime, nem derrota. Crime é mentir para si mesmo. Derrota é gastar os últimos anos lutando contra o inevitável em vez de aprender a dançar com ele.

Quem envelhece bem não é quem finge que ainda tem vinte anos. É quem compreende que aos setenta se vive de outro jeito - mais lento, sim, mas muitas vezes mais profundo.

O corpo pede respeito, mas a alma pode estar mais viva do que nunca. A memória pode falhar com nomes recentes, mas guarda com nitidez os cheiros da infância, as músicas que marcaram a vida, as lições que só o tempo ensina.

Envelhecer com dignidade é trocar a ilusão da eternidade pela aceitação serena da transitoriedade. É perceber que: Você não precisa mais provar nada para ninguém. O silêncio pode ser mais sábio que mil palavras apressadas.

Um neto no colo vale mais que qualquer recorde de juventude. Um livro lido devagar, uma conversa longa à mesa, um pôr do sol observado sem pressa são luxos que só a velhice permite aproveitar de verdade.

A velhice não é o fim da vida - é o começo de outra vida. Mais frágil no corpo, talvez, mas frequentemente mais forte na essência. Quem chega lá com lucidez traz algo que os jovens ainda não têm: a visão de quem já atravessou o rio e sabe que a correnteza leva tudo, menos o que realmente importa.

Então prepare-se. Cuide do corpo enquanto ele obedece, mas cultive desde já a alma que vai sustentar você quando ele cansar. Aprenda a dizer “não” para o que já não cabe mais. Aprenda a dizer “sim” para o que a idade oferece de presente: tempo, perspectiva, ternura, humor, desapego.

Porque um dia - e esse dia chega depressa - o futuro baterá à sua porta e dirá baixinho no seu ouvido: “Cheguei. Eu sou a velhice. Agora me deixa te ensinar o que a juventude nunca soube.”

Não tenha medo dela. Abrace-a. Ela é o último e talvez o mais belo ato de coragem que a vida pede de nós.

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