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Mostrando postagens de março 2, 2025

Lágrimas de velório

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  Na vida, muitas vezes, as pessoas não atravessam uma rua para te ajudar enquanto estás vivo. Mas atravessam o mundo para te enterrar quando morres. E a maioria das lágrimas derramadas no velório, infelizmente, não são de dor ou de pena, mas de remorso e arrependimento. Essa é uma verdade dura que reflete a natureza humana: tendemos a valorizar mais o que perdemos do que o que temos diante de nós. Enquanto estamos aqui, respirando, lutando, rindo ou chorando, muitos passam ao largo, ocupados com suas próprias vidas ou indiferentes às nossas batalhas. Mas, quando o fim chega, o peso da ausência parece despertar um senso de urgência que antes não existia. Os mortos recebem mais flores do que os vivos porque, na partida, há um vazio que clama por ser preenchido, uma tentativa de compensar o que não foi dado em vida. As flores, com sua beleza efêmera, tornam-se símbolos de um carinho que talvez tenha sido guardado por tempo demais, um gesto que chega tarde para ser sentido por q...

Isso é meu

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  Jean-Jacques Rousseau, em Do Contrato Social (1762), escreveu: “O primeiro homem que, havendo cercado um pedaço de terra, disse ‘ISSO É MEU’, e encontrou pessoas tolas o suficiente para acreditar nas suas palavras, este homem foi o verdadeiro fundador da sociedade civil.” Essa frase carrega uma crítica mordaz e profunda à origem da propriedade privada e, por extensão, às bases da organização social que conhecemos. Para Rousseau, esse ato inaugural não foi um marco de progresso, mas o início de uma cadeia de desigualdades, conflitos e dependências que moldaram a humanidade. A ideia de posse, tão naturalizada hoje, foi, em sua visão, uma invenção arbitrária que só ganhou força porque outros a aceitaram sem questionar. O que torna o pensamento de Rousseau tão instigante é a sugestão de que a sociedade civil, com suas leis e estruturas, não é uma evolução inevitável da natureza humana, mas uma construção sustentada pela credulidade e pela conveniência. Aquele primeiro cercado...

O goleiro que ficou sozinho no campo sem saber que o jogo acabou

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  Em 25 de dezembro de 1937, uma das histórias mais peculiares e quase lendárias do futebol mundial aconteceu em Londres, no estádio Stamford Bridge. Durante uma partida entre Chelsea e Charlton Athletic, válida pela liga inglesa, uma neblina excepcionalmente densa desceu sobre a capital britânica, transformando o campo em um cenário fantasmagórico. O que começou como um jogo comum logo se tornou um evento digno de contos folclóricos. A visibilidade, que já era ruim no início, piorou drasticamente à medida que o tempo passava. Jogadores, árbitro e torcedores mal conseguiam distinguir a silhueta dos jogadores a poucos metros de distância. A bola, os gritos abafados e até os apitos do juiz pareciam engolidos pela cortina branca que envolvia o estádio. Em determinado momento, a situação ficou tão caótica que o árbitro, sem alternativa, decidiu encerrar a partida antes do tempo regulamentar. No entanto, nem todos perceberam a interrupção. Sam Bartram, o lendário goleiro do Ch...

Escravos Modernos

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  “Meu otimismo está baseado na certeza de que está civilização vai desmoronar. Meu pessimismo, em tudo aquilo que ela faz para arrastar-nos em sua queda!” Essas palavras, carregadas de paradoxo, revelam uma visão ao mesmo tempo esperançosa e desencantada. Há uma fé quase libertadora na finitude de um sistema que se sustenta sobre pilares frágeis – consumo desenfreado, desigualdade abissal e alienação coletiva. Mas também há um lamento amargo por uma humanidade que, em vez de resistir, parece abraçar a corrente que a prende, como se o colapso iminente fosse ao mesmo tempo inevitável e tragicamente auto infligido. A servidão moderna é uma escravidão voluntária, consentida por essa multidão de escravos que se arrastam pela face da Terra. Diferente das algemas de ferro do passado, as correntes de hoje são invisíveis, tecidas com promessas de conforto e status. Eles mesmos compram as mercadorias que os escravizam cada vez mais - smartphones que os vigiam, dívidas que os sufocam...

A Inutilidade da Teologia

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     A Inutilidade da Teologia - Um editorial infeliz e ingênuo do jornal britânico  Independent  recentemente pediu uma reconciliação entre ciência e “teologia”. Dizia que “As pessoas querem saber o tanto quanto possível sobre suas origens”. Com certeza, espero que elas queiram, mas o que diabo faz alguém pensar que a teologia tem algo de útil para dizer sobre esse assunto? A ciência é responsável pelas seguintes informações sobre nossas origens. Nós sabemos aproximadamente quando o Universo surgiu e porque ele é, em sua maioria, de hidrogênio. Nós sabemos por que as estrelas se formam e o que acontece no interior delas para converter hidrogênio em outros elementos, dando origem à química em um mundo físico. Nós sabemos os princípios fundamentais de como um mundo químico pode se transformar em biologia através do aparecimento de moléculas auto reprodutoras.  Nós sabemos como o princípio da auto reprodução deu origem, através da...

A tragédia da expedição Franklin

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  Este é o corpo praticamente intacto encontrado de John Hartnell, um dos membros da expedição Franklin, cuja tripulação inteira desapareceu durante uma viagem pelo arquipélago ártico canadense em julho de 1845. John Hartnell, um marinheiro de 25 anos, foi um dos primeiros a morrer na expedição, sepultado em 1846 na ilha Beechey, onde seu corpo foi descoberto em surpreendente estado de preservação devido às condições extremas de frio do Ártico, que retardaram a decomposição. Em maio de 1845, 134 homens partiram da Inglaterra em busca da passagem do Noroeste, uma rota comercial lendária que prometia conectar os oceanos Atlântico e Pacífico através das águas geladas do Ártico. A Expedição Franklin, liderada pelo experiente Capitão Sir John Franklin, de 59 anos, era vista como um empreendimento ambicioso e bem equipado. Seus dois navios, o HMS Erebus e o HMS Terror, haviam sido modernizados com máquinas a vapor e reforçados com placas de ferro nos cascos para resistir às duras c...

Mary Austin, o Grande amor de Freddie Mercury

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Freddie Mercury, antes de se declarar gay, teve um relacionamento profundo e significativo com Mary Austin, que durou seis anos, entre o final dos anos 1960 e o início dos 1970. Esse vínculo nasceu quando Freddie ainda era um jovem artista em ascensão, antes de se tornar o ícone mundial à frente do Queen. Mary, uma jovem de origem humilde que trabalhava na boutique Biba, em Londres, conheceu Mercury por meio de Brian May, guitarrista da banda, e logo os dois iniciaram uma relação marcada por carinho e cumplicidade. Esse namoro, que Freddie descreveria mais tarde como um dos períodos mais importantes de sua vida, inspirou a criação de uma das músicas mais emblemáticas do Queen: "Love of My Life". Lançada em 1975 no álbum A Night at the Opera, a canção é uma balada delicada e emocional, escrita ao piano, que reflete o amor intenso e a gratidão que Freddie sentia por Mary, mesmo após o término do relacionamento romântico. Embora o namoro tenha acabado quando Freddie começou a ex...