Lágrimas de Crocodilo


 

A expressão “lágrimas de crocodilo” carrega uma origem fascinante, enraizada em crenças antigas e observações da natureza. Desde a Idade Média, circulava na Europa a ideia de que crocodilos derramavam lágrimas enquanto devoravam suas presas, como se expressassem tristeza ou remorso pelo ato.

Essa crença, que misturava folclore e má interpretação, se espalhou rapidamente e transformou a expressão em sinônimo de choro fingido, hipocrisia ou emoção encenada.

Na verdade, crocodilos produzem lágrimas, mas não por motivos emocionais. O fenômeno ocorre devido à sua fisiologia: quando mastigam, o movimento vigoroso da mandíbula e da garganta pressiona os seios paranasais, estimulando as glândulas lacrimais.

Isso faz com que lágrimas escorram pelos olhos, criando a ilusão de um choro sentido, mas que, na realidade, é apenas uma reação mecânica, sem qualquer traço de arrependimento ou compaixão.

A origem da expressão também está ligada a relatos de viajantes e naturalistas da Antiguidade e da Idade Média, que observavam crocodilos no Egito Antigo e em outras regiões do mundo.

Textos de autores como Plínio, o Velho, no século I, já mencionavam o comportamento “triste” dos crocodilos, o que reforçou o mito. Na literatura medieval, como em bestiários - coleções de descrições de animais reais e mitológicos -, o crocodilo era frequentemente retratado como uma criatura traiçoeira, capaz de enganar suas presas com lágrimas falsas para atraí-las.

Essa imagem simbólica se consolidou na cultura europeia e foi usada em sermões religiosos, peças de teatro e contos para criticar a hipocrisia, especialmente em contextos políticos e sociais.

Com o tempo, a expressão “lágrimas de crocodilo” ganhou espaço em diversas línguas e culturas, sendo usada até hoje para descrever demonstrações exageradas ou falsas de emoção.

No Brasil, por exemplo, é comum ouvir a frase em contextos cotidianos, como em novelas ou conversas informais, para apontar alguém que dramatiza para manipular ou chamar atenção.

Em inglês, a expressão equivalente, “crocodile tears”, também é amplamente usada, aparecendo em obras de Shakespeare, como Othello, onde o dramaturgo explora a ideia de fingimento emocional.

Além disso, a expressão reflete uma curiosidade sobre como a ciência e o folclore se entrelaçam. Enquanto a crença medieval atribuía intenções humanas aos crocodilos, a biologia moderna esclareceu o mecanismo por trás das lágrimas.

Ainda assim, o fascínio pelo comportamento desses répteis continua, e a expressão permanece como um lembrete de como observações antigas moldam nossa linguagem e cultura.

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