O Homem no Limite
Quando
o homem chega ao seu limite, quase ninguém percebe. É um colapso silencioso,
disfarçado em gestos sutis e palavras curtas. Ele começa a responder tudo com
um monótono “tá bom”, um eco vazio que não carrega concordância, mas rendição.
Não é
que ele aceite o que lhe dizem; é que a luta por ser ouvido se tornou
exaustiva, um peso que ele já não suporta carregar. Quando ele para de
argumentar, de se importar ou até de explicar, não é por fraqueza ou
indiferença.
É
porque algo dentro dele se quebrou. Ele desistiu - não da vida, mas de tentar
encaixar sua voz em um mundo que parece surdo aos seus gritos. Cada “tá bom” é
uma muralha erguida, um passo atrás na batalha por ser compreendido.
Ele
sabe que, seja qual for sua opinião, ela será distorcida, julgada ou ignorada.
Então, engole o orgulho, amarga o silêncio e economiza a energia que antes
gastava tentando provar seu valor.
Houve
um tempo em que ele falava com paixão, em que seus olhos brilhavam ao
compartilhar ideias, sonhos ou até mesmo suas dores. Ele tentava, com
paciência, construir pontes para que o outro lado o alcançasse.
Mas as
pontes desmoronaram, uma a uma, sob o peso de mal-entendidos, críticas afiadas
ou silêncios cruéis. Cada tentativa frustrada de diálogo foi como uma pedra
adicionada ao fardo que carregava, até que o cansaço venceu.
Ele
aprendeu, da pior forma, que nem sempre vale a pena falar. Às vezes, o limite
não vem de um grande evento, mas de uma sucessão de pequenas feridas.
Um
comentário desdenhoso aqui, uma resposta indiferente ali, um olhar que diz
“você não importa” sem precisar de palavras. Ele guarda essas mágoas, não por
escolha, mas porque não sabe o que fazer com elas.
E, no
fundo, ele ainda espera - talvez ingenuamente - que alguém note o vazio por
trás do seu “tá bom”, que alguém perceba o quanto ele se perdeu tentando ser
suficiente.
Mas o
mundo segue, alheio. As pessoas continuam falando, exigindo, esperando que ele
esteja lá, firme como sempre, sem nunca questionar se ele está inteiro.
E ele,
com seu silêncio resignado, carrega o peso de ser invisível. Às vezes, à noite,
quando o mundo está quieto, ele se pergunta se ainda há espaço para sua voz, se
ainda existe alguém disposto a ouvir.
Mas
essas reflexões são passageiras, engolidas pela rotina do dia seguinte, onde
mais um “tá bom” será sua resposta ao caos. E assim ele segue, um passo de cada
vez, equilibrando-se na corda bamba entre o que sente e o que esconde.
Talvez
um dia ele encontre forças para falar novamente, para erguer a cabeça e dizer o
que realmente pensa. Ou talvez o silêncio se torne sua nova linguagem, uma
armadura que o protege e, ao mesmo tempo, o isola.
O que resta é a certeza de que, por trás de cada “tá bom”, há um homem que já tentou demais, que amou demais, que lutou demais - e que, agora, apenas tenta sobreviver.
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