A lição de minha mãe
Certa
manhã, enquanto ajudava minha mãe na cozinha, ouvi-a chamar a Dona Maria, nossa
vizinha, pelo portão. Com um sorriso gentil, ela pediu um punhado de sal.
Fiquei
confuso. Sabia que tínhamos um pote cheio de sal na despensa, comprado
recentemente no mercado. Curioso, aproximei-me e perguntei:
- Mãe,
por que pediu sal à Dona Maria se temos tanto em casa?
Ela me
olhou com aquele jeito sereno que sempre carregava uma lição por trás e
respondeu:
- Meu
filho, nossos vizinhos não têm muito dinheiro e, às vezes, precisam pedir algo
emprestado. Eles já nos pediram açúcar, óleo, farinha... Coisas pequenas, mas
que fazem diferença para eles.
Então,
de vez em quando, eu também peço algo simples, como sal, mesmo que não
precisemos. Assim, mostro que nós também precisamos deles. Isso os faz sentir
mais à vontade, menos constrangidos, e fortalece nossa relação. É uma troca de
confiança, de cuidado mútuo.
Fiquei
em silêncio, absorvendo suas palavras. Minha mãe não estava apenas pedindo sal;
ela estava construindo pontes. Naquele bairro humilde, onde todos se conheciam
e a solidariedade era o que mantinha a comunidade unida, pequenos gestos como
aquele faziam toda a diferença.
Lembrei-me
de como Dona Maria, ao trazer o sal, sorriu e conversou animadamente com minha
mãe, contando sobre o neto que estava aprendendo a ler.
Era
como se, naquele momento, ela se sentisse parte de algo maior, não apenas uma
vizinha que "pedia favores".
Com o
tempo, percebi que minha mãe repetia esse gesto com outros vizinhos. Às vezes,
pedia um pouco de manjericão fresco ao Seu João, que cultivava uma pequena
horta no quintal, ou um ovo à Dona Clara, mesmo tendo uma dúzia na geladeira.
E, em
troca, ela sempre oferecia algo de volta: um pedaço de bolo recém-assado, uma
xícara de café quentinho ou simplesmente uma conversa acolhedora. Era sua
maneira de dizer: "Estamos juntos, somos iguais, e todos precisamos uns
dos outros."
Aquele
dia na cozinha mudou minha forma de enxergar a vida em comunidade. Aprendi que
a generosidade não é só dar, mas também saber receber - ou até fingir que se
precisa receber - para que o outro se sinta valorizado.
Minha
mãe, com sua sabedoria simples, me ensinou que a verdadeira solidariedade é
feita de respeito, empatia e pequenos atos que constroem laços inquebráveis.
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