A Trágica Vida de um Gênio – Edgar Allan Poe


 

Edgar Allan Poe, nascido Edgar Poe em 19 de janeiro de 1809, em Boston, Massachusetts, foi um escritor, poeta, editor e crítico literário norte-americano, reconhecido como um dos maiores expoentes do romantismo e pioneiro dos gêneros de terror, ficção policial e ficção científica.

Sua vida, marcada por tragédias, instabilidade e genialidade literária, reflete-se em suas obras sombrias e profundas.

Infância (1809–1820)

Edgar Allan Poe nasceu em uma família de atores itinerantes, filho de David Poe Jr., americano, e Elizabeth Arnold Hopkins Poe, inglesa. Ele era o segundo de três filhos, com um irmão mais velho, William Henry (1807), e uma irmã mais nova, Rosalie (1811).

Sua infância foi marcada por adversidades desde cedo. Em 1810, quando Edgar tinha cerca de um ano, seu pai abandonou a família, deixando Elizabeth, grávida de Rosalie, sozinha para sustentar os filhos. Em 1811, Elizabeth faleceu de tuberculose, aos 24 anos, deixando Edgar órfão aos dois anos de idade.

Após a morte de sua mãe, os irmãos Poe foram separados. William Henry ficou com os avós paternos, Rosalie foi adotada por uma família em Richmond, e Edgar foi acolhido, embora nunca formalmente adotado, pelo casal John Allan, um rico comerciante escocês de tabaco, e sua esposa, Frances Allan, de Richmond, Virgínia.

John Allan deu a Edgar seu sobrenome, e ele passou a ser chamado de Edgar Allan Poe. Apesar da boa situação financeira dos Allans, a relação de Edgar com seu pai adotivo foi tensa desde o início, em parte porque John, descrito como impulsivo e distante, teria acolhido Edgar apenas por insistência de Frances, a quem Edgar era muito apegado.

Aos seis anos, em 1815, Edgar mudou-se com os Allans para a Inglaterra, onde John buscava expandir seus negócios. Lá, a família viveu em Londres, e Edgar frequentou escolas de qualidade, como a Misses Duborg School e a Manor School, recebendo uma educação clássica que incluía latim, grego, francês e literatura.

Ele demonstrou desde cedo uma habilidade excepcional para memorizar e recitar poesia, destacando-se como um aluno promissor. Em 1820, a família retornou a Richmond, onde Edgar continuou seus estudos em um colégio interno nos arredores de Charlottesville, Virgínia.

Essa educação sólida moldou sua formação intelectual, mas as tensões com John Allan começaram a se intensificar à medida que Edgar crescia.

Adolescência e Juventude (1820–1831)

Na adolescência, Edgar começou a mostrar um temperamento inquieto e rebelde. Em 1826, aos 17 anos, ingressou na Universidade da Virgínia, onde se destacou em línguas clássicas e modernas, mas seu comportamento boêmio, marcado por dívidas de jogo e consumo de álcool, levou a conflitos com John Allan, que se recusou a pagar suas despesas.

Após menos de um ano, Edgar abandonou a universidade e, após desentendimentos com Allan, deixou Richmond. Ele se mudou para Boston, onde, em 1827, publicou anonimamente seu primeiro livro, Tamerlane and Other Poems, sob o pseudônimo “Um Bostoniano”. A obra, inspirada por poetas românticos como Byron, passou despercebida.

Sem recursos, Edgar alistou-se no exército americano em 1827, usando o nome Edgar A. Perry. Serviu em fortes como o Forte Independence, em Boston, e o Forte Moultrie, em Charleston, onde alcançou o posto de sargento-mor.

Durante esse período, continuou escrevendo poesia. Em 1829, após a morte de Frances Allan, Edgar e John tiveram uma breve reconciliação, e John o ajudou a ingressar na Academia Militar de West Point. No entanto, Edgar, avesso a regras, foi expulso em 1831 por negligência deliberada, marcando o rompimento definitivo com seu pai adotivo.

Carreira Literária e Vida Adulta (1831–1849)

Após deixar West Point, Edgar decidiu dedicar-se exclusivamente à escrita, uma escolha ousada para a época, já que não havia um mercado editorial estável nos Estados Unidos.

Ele se mudou para Baltimore, onde viveu com sua tia, Maria Clemm, e sua prima, Virginia Clemm, com quem se casou em 1836, quando ela tinha apenas 13 anos. Esse casamento, controverso, foi marcado por afeto, mas também por dificuldades financeiras e tragédias pessoais.

Poe começou a ganhar notoriedade como escritor e crítico. Em 1833, venceu um concurso literário com o conto Manuscrito Encontrado numa Garrafa, e em 1835 tornou-se editor do Southern Literary Messenger em Richmond, onde publicou contos, poemas e críticas cáusticas que o tornaram conhecido, mas também geraram inimizades.

Sua carreira o levou a cidades como Filadélfia e Nova York, onde trabalhou em revistas como Burton’s Gentleman’s Magazine e Graham’s Magazine. Nessa época, publicou obras-primas como A Queda da Casa de Usher (1839), Os Assassinatos na Rua Morgue (1841, considerado o primeiro conto policial), e O Corvo (1845), poema que o consagrou.

Apesar do sucesso literário, Poe enfrentou dificuldades financeiras constantes, agravadas pela falta de leis de direitos autorais, que permitiam a pirataria de suas obras.

Sua vida pessoal também foi marcada por tragédias: em 1842, Virginia contraiu tuberculose, e sua morte em 1847 devastou Poe, intensificando seu alcoolismo.

Últimos Anos e Morte (1847–1849)

Após a morte de Virginia, Poe entrou em declínio. Ele tentou um noivado com a poeta Sarah Helen Whitman, mas o relacionamento fracassou, possivelmente devido a seu comportamento errático e à desaprovação da mãe dela.

Em 1849, Poe retomou contato com Sarah Elmira Royster, uma paixão de juventude, e planejava se casar novamente. No entanto, em 3 de outubro de 1849, foi encontrado em Baltimore, em estado de delirium tremens, vestindo roupas que não eram suas.

Levado ao Washington College Hospital, morreu quatro dias depois, em 7 de outubro, aos 40 anos. As circunstâncias de sua morte permanecem um mistério, com teorias que incluem alcoolismo, infecção, suicídio ou até assassinato.

Legado

Edgar Allan Poe é reconhecido como um dos maiores escritores da literatura mundial, com uma obra que transcende gêneros e influenciou o simbolismo, o terror psicológico e a ficção moderna.

Seus contos, como O Gato Preto e O Coração Delator, e poemas, como O Corvo e Annabel Lee, exploram temas de morte, perda e o sobrenatural, refletindo suas próprias experiências traumáticas.

Apesar de uma vida marcada por pobreza e instabilidade, Poe transformou a literatura americana, deixando um legado que persiste na cultura popular, no cinema, na música e na literatura.

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