Tempo: um ser difícil
O tempo
da felicidade é sempre fugaz, como se as horas se apressassem em deslizar entre
os dedos, deixando apenas a memória de instantes que desejávamos eternos. O
tempo, esse ser intangível e caprichoso, parece zombar de nossas vontades.
Quando
ansiamos que ele se demore, que se estenda em momentos de alegria, amor ou
plenitude, ele corre célere, quase imperceptível, como um rio que escapa sem
que possamos segurá-lo.
As
horas de um encontro aguardado, de uma conquista celebrada ou de um dia
ensolarado ao lado de quem amamos passam como um sopro, e, quando percebemos,
já se foram deixando um vazio doce, mas efêmero.
Por
outro lado, quando atravessamos o sofrimento, quando vivemos um tempo de dor,
angústia ou espera, o tempo se torna um fardo pesado, um caminhar lento e
arrastado. Cada segundo parece se prolongar, como se o relógio conspirasse para
eternizar o desconforto.
Nessas
horas, o tempo é moroso, e o desfilar dos minutos se arrasta, como se o
universo pausasse para nos fazer sentir cada instante de aflição. Quem nunca
contou os minutos em uma noite de insônia, aguardando o amanhecer, ou enfrentou
a lentidão de um período de luto, em que o tempo parece se recusar a avançar?
Essa
dualidade do tempo não é apenas uma percepção subjetiva, mas um fenômeno que
ressoa em nossas experiências mais profundas. Pense, por exemplo, nas
celebrações que marcam a vida: um casamento, o nascimento de um filho, uma
viagem inesquecível.
Esses
momentos, tão intensos e cheios de significado, parecem durar apenas um piscar
de olhos. Em contrapartida, eventos de crise, como a espera por notícias em um
hospital ou os dias de incerteza durante uma pandemia, como a de 2020, que
paralisou o mundo, fazem o tempo parecer um peso insuportável, com cada dia se
arrastando em uma monotonia opressiva.
A
ciência também ecoa essa percepção. Estudos em psicologia mostram que o cérebro
humano processa o tempo de forma diferente dependendo do estado emocional.
Em
momentos de alegria, a ativação de áreas cerebrais ligadas ao prazer faz com
que o tempo pareça mais curto, enquanto a ansiedade ou o medo, que intensificam
a atenção aos detalhes, alongam a sensação de duração.
Assim,
o tempo não é apenas um fluxo constante medido por relógios; ele é moldado por
nossas emoções, expectativas e vivências. Essa relação com o tempo nos convida
a refletir sobre como vivemos cada instante.
Talvez
a chave esteja em abraçar plenamente os momentos de felicidade, sabendo que são
breves, e em encontrar resiliência para atravessar os períodos de dificuldade,
confiando que, mesmo lentos, eles também passarão.
O tempo, com sua natureza esquiva, nos ensina que nada é permanente - nem a alegria, nem a dor. E é nessa impermanência que reside o convite para vivermos com mais intensidade, conscientes de que cada segundo, seja ele leve ou pesado, é parte do que nos faz humanos.
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