Dona Inês de Castro
Durante
a invasão napoleônica de Portugal, em 1810, no contexto da Terceira Invasão
Francesa liderada pelas tropas de Napoleão Bonaparte, o país sofreu não apenas
perdas territoriais e humanas, mas também um ataque devastador ao seu
patrimônio cultural e histórico.
Nesse
período, diversos monumentos e locais sagrados foram alvos de saques e
profanações, incluindo os túmulos reais do Mosteiro de Alcobaça, onde
repousavam figuras históricas de grande relevância, como D. Pedro I e D. Inês
de Castro, a rainha póstuma.
Os
soldados franceses, movidos por uma combinação de desrespeito, busca por
espólios e, possivelmente, uma tentativa de humilhar a monarquia portuguesa,
violaram os sarcófagos do Mosteiro de Alcobaça.
Ao
abrirem o túmulo de D. Inês de Castro, constataram que seu crânio havia sido
seccionado na altura das vértebras do pescoço, um sinal de violência que remete
à sua trágica execução em 1355, ordenada por D. Afonso IV.
Inspirados,
talvez, pelas ações dos revolucionários franceses que, em 1793, profanaram os
túmulos reais na Basílica de Saint-Denis, os soldados napoleônicos
desmantelaram os restos mortais de D. Inês.
Seus
ossos foram retirados do sarcófago e atirados de maneira desrespeitosa em uma
sala adjacente do mosteiro, num ato que simbolizava tanto a destruição física
quanto a tentativa de apagar a memória de uma figura tão emblemática da
história portuguesa.
O corpo
de D. Pedro I, que havia sido embalsamado e preservado com relativo cuidado,
também não escapou da fúria dos invasores. Envolto em um manto púrpura, símbolo
de sua dignidade real, o corpo foi retirado de seu túmulo e exposto, num gesto
que buscava desonrar o legado do rei que, em vida, foi conhecido pela sua
devoção a D. Inês e pela justiça rigorosa que aplicava.
Os
monumentos funerários de ambos, verdadeiras obras-primas da arte gótica,
sofreram danos irreparáveis. A efígie de D. Inês, esculpida com delicadeza para
eternizar sua imagem, teve o nariz quebrado, um ato que desfigurou a
representação da rainha póstuma.
Além
disso, as esculturas que adornavam os túmulos, incluindo os querubins que
circundavam a figura de D. Inês, foram vandalizadas, com asas partidas e outros
detalhes destruídos.
Esses
atos de profanação não foram apenas um ataque ao patrimônio material, mas
também uma tentativa de atingir a identidade e a memória coletiva do povo
português.
O
Mosteiro de Alcobaça, um dos mais importantes monumentos de Portugal e símbolo
da dinastia de Avis, foi transformado em cenário de violência e desrespeito,
refletindo o caos trazido pelas Guerras Napoleônicas.
A
destruição dos túmulos de D. Pedro I e D. Inês de Castro, cuja história de amor
trágico é uma das mais célebres da cultura portuguesa, chocou a sociedade da
época e deixou marcas duradouras no imaginário nacional.
Após a
retirada das tropas francesas, esforços foram feitos para restaurar os túmulos
e reparar os danos, mas muitos dos prejuízos foram irreversíveis.
A profanação de 1810 permanece como um triste capítulo na história do Mosteiro de Alcobaça, evidenciando como as guerras podem não apenas ceifar vidas, mas também atacar a herança cultural de uma nação.
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