A vida é uma peça de Teatro
Se você tivesse acreditado
nas minhas brincadeiras de dizer verdades, teria ouvido muitas verdades que
insisto em sussurrar com o riso nos lábios. Falei, muitas vezes, como um
palhaço - os sapatos desajeitados, a flor murcha na lapela -, mas nunca
desacreditei da seriedade dos olhares que, mesmo sorrindo, me respondiam com a
alma inteira.
A vida, meu amigo, é uma
peça de teatro que não permite ensaios. O pano sobe sem aviso, as luzes nos
cegam, e já estamos em cena antes de decorar as primeiras falas.
Por isso cante, ria, dance,
chore e viva intensamente cada compasso, antes que a cortina se feche e a peça
termine em silêncio, sem aplausos nem bis.
Certa vez, desci de um
palco improvisado em Londres e, ainda vestido de vagabundo, segui anonimamente
pela rua de paralelepípedos úmidos.
Uma senhora me pediu fogo;
um menino com o joelho esfolado me ofereceu metade do seu pão. Ali, sem
refletor nem trilha sonora, percebi que a plateia se estende muito além dos
assentos numerados.
Cada esquina é proscênio,
cada gesto, um ato - e cada pessoa que cruza nosso caminho carrega o direito, e
talvez a necessidade, de ser tocada pela nossa pequena comédia.
Já vi cenários ruírem no
meio da representação: paixões despedaçadas, amigos perdidos em brigas tolas,
oportunidades esquecidas nos bastidores. Ainda assim, o espetáculo prossegue.
Quando o sofrimento vier,
acolha‑o como parte do enredo; ele confere peso às gargalhadas futuras. Se a
felicidade bater à porta, deixe‑a entrar e sentar‑se na primeira fila: ninguém
sabe quanto tempo ela ficará.
E, se me permite uma última
confidência, lembre‑se de que o maior aplauso de todos não vem do público: ele
ecoa dentro do peito quando percebemos que fomos verdadeiros conosco, mesmo
tropeçando no picadeiro.
Talvez o silêncio final
seja inevitável, mas ele não precisa ser vazio. Se tivermos vivido cada segundo
como se fosse estreia e despedida ao mesmo tempo, ouviremos, na escuridão que
sucede o fecho das cortinas, o rumor delicado de uma vida que valeu a pena.
Portanto, aprenda suas
falas enquanto caminha, improvise quando esquecer - e nunca dispense uma piada,
pois a alegria é o intervalo que impede a tragédia de sufocar por completo o
coração da plateia.
Afinal, espetáculo algum
resiste somente ao pranto; é o riso, no fim, que nos devolve a coragem de
permanecer em cena.
Esse texto é baseado numa frase atribuída a Charlie Chaplin
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