Alice de Battenberg
Alice de Battenberg: Uma Vida de Resiliência e Legado Real
Nascida
em 25 de fevereiro de 1885, no Castelo de Windsor, Inglaterra, Alice de
Battenberg veio ao mundo com uma surdez parcial congênita, uma condição que
moldaria sua vida de maneira singular.
Filha
de Vitória de Hesse-Darmstadt e do príncipe Luís de Battenberg, Alice era
bisneta da rainha Vitória do Reino Unido pelo lado materno, uma conexão que a
colocou no coração da realeza europeia.
A
rainha Vitória nutria grande carinho por Alice, reconhecendo sua inteligência e
determinação desde cedo. Suas tias, figuras proeminentes da realeza, incluíam a
grã-duquesa Elizabeth Feodorovna da Rússia e a czarina Alexandra, esposa de
Nicolau II, o último imperador russo.
Criada
em um ambiente cosmopolita, Alice recebeu uma educação refinada em três países -
Inglaterra, Alemanha e Grécia -, o que a tornou fluente em várias línguas,
incluindo inglês, alemão, grego e a linguagem de sinais, que aprendeu para se
comunicar apesar de sua surdez.
Sua
capacidade de leitura labial, desenvolvida com grande habilidade, permitia que
ela interagisse com fluidez em diferentes cortes europeias, superando as
barreiras de sua condição.
Essa
educação multicultural, aliada à sua determinação, fez de Alice uma figura notável
em um período marcado por transformações políticas e sociais na Europa.
Em
1903, aos 18 anos, Alice casou-se com o príncipe André da Grécia e Dinamarca,
um membro da família real grega. O casal teve cinco filhos: quatro filhas -
Margarida, Teodora, Cecília e Sofia - e um filho, Filipe, que mais tarde se
tornaria o duque de Edimburgo e consorte da rainha Elizabeth II do Reino Unido.
O
casamento com André colocou Alice no centro da tumultuada história da monarquia
grega, que enfrentava instabilidade política e crises frequentes no início do
século XX.
A vida
de Alice foi marcada por desafios extraordinários. Durante a Primeira Guerra
Mundial, ela viveu na Grécia, onde a família real enfrentava tensões devido à
neutralidade do país e à pressão das potências aliadas e centrais.
Após a
guerra, a monarquia grega entrou em crise, e em 1922, após um golpe militar,
André foi exilado, acusado de traição por suas decisões durante as guerras
greco-turcas. Alice e seus filhos foram forçados a deixar a Grécia, iniciando
um período de incertezas e dificuldades financeiras.
Instalada
na França, a família viveu de forma modesta, longe do esplendor real. A década
de 1920 foi particularmente difícil para Alice. Além das dificuldades
financeiras, ela enfrentou problemas de saúde mental, sendo diagnosticada com
esquizofrenia em 1930.
Internada
em um sanatório na Suíça por dois anos, Alice passou por tratamentos
controversos, incluindo terapias baseadas nas ideias de Sigmund Freud, que a
associavam a supostos "desequilíbrios sexuais".
Durante
esse período, sua família se fragmentou: suas filhas se casaram com príncipes
alemães, e Filipe foi enviado para estudar na Inglaterra, sob os cuidados de
parentes.
A
separação de André, que se afastou emocionalmente, marcou um dos momentos mais
difíceis de sua vida. No entanto, Alice demonstrou uma resiliência notável.
Após
sua recuperação, ela retornou à Grécia na década de 1930, onde se dedicou a
causas humanitárias. Durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto Atenas estava
ocupada pelas forças do Eixo, Alice permaneceu na cidade, arriscando sua vida
para ajudar os necessitados.
Ela
trabalhou com a Cruz Vermelha, organizou sopas populares e, de forma
extraordinária, escondeu uma família judia, os Cohens, em sua casa,
protegendo-os da perseguição nazista.
Sua
coragem foi reconhecida postumamente, quando, em 1993, o Yad Vashem, o Memorial
do Holocausto em Israel, a nomeou “Justa entre as Nações” por seus atos
heroicos.
Após a
guerra, Alice fundou uma ordem religiosa ortodoxa, a Irmandade Cristã de Marta
e Maria, inspirada em sua tia Elizabeth Feodorovna, que também fundara uma
ordem semelhante antes de ser assassinada pelos bolcheviques em 1918.
Vestindo
hábitos de freira, Alice dedicou-se à caridade, mas nunca professou votos
formais. Sua vida espiritual, combinada com sua devoção aos necessitados,
reflete a profundidade de seu caráter e sua busca por propósito em meio às
adversidades.
Nos
últimos anos de sua vida, Alice viveu na Inglaterra, no Palácio de Buckingham,
a convite de seu filho Filipe e da rainha Elizabeth II. Apesar de sua surdez e
das dificuldades enfrentadas ao longo da vida, ela manteve uma presença digna e
excêntrica, frequentemente vista com seu hábito religioso e fumando cigarros,
uma imagem que contrastava com o protocolo rígido da corte britânica.
Alice
faleceu em 5 de dezembro de 1969, deixando um legado de coragem, compaixão e
superação. A história de Alice de Battenberg é um testemunho de como uma
mulher, nascida em privilégio, mas enfrentando adversidades pessoais e
históricas, conseguiu deixar uma marca indelével.
Sua
surdez, longe de ser uma limitação, tornou-se parte de sua força, enquanto sua
dedicação à caridade e à proteção dos vulneráveis durante a guerra a elevou a
um status de heroína.
Como
mãe do duque de Edimburgo, ela é uma figura central na história da família real
britânica, mas sua verdadeira grandeza reside em sua capacidade de transformar
sofrimento em serviço aos outros.
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