Queda Livre de Vesna Vulović


 

Em 26 de janeiro de 1972, Vesna Vulović, uma comissária de bordo sérvia de 22 anos, protagonizou um dos eventos mais extraordinários da história da aviação: ela sobreviveu à queda mais alta já registrada sem paraquedas.

A bordo do voo JAT 367, um McDonnell Douglas DC-9 operado pela companhia aérea iugoslava Jugoslovenski Aerotransport (JAT), Vesna foi a única sobrevivente de uma tragédia que matou as outras 27 pessoas a bordo.

O avião explodiu a 10.160 metros de altitude sobre a vila de Srbská Kamenice, na então Tchecoslováquia (atualmente parte da República Tcheca), após uma bomba detonada no compartimento de bagagens.

A explosão, atribuída a um possível ataque terrorista, desintegrou a aeronave em pleno voo. Apesar da violência do incidente, Vesna, que trabalhava na seção traseira do avião, permaneceu presa à cauda da aeronave, que caiu em uma encosta arborizada e coberta de neve.

A combinação do terreno macio, da neve fofa e da estrutura da cauda, que absorveu parte do impacto, foi crucial para sua sobrevivência. Além disso, ela foi encontrada por um lenhador local, Bruno Honke, que havia sido médico durante a Segunda Guerra Mundial e prestou os primeiros socorros até a chegada das equipes de resgate.

Vesna sofreu lesões gravíssimas, incluindo fraturas na base do crânio, três vértebras quebradas, costelas fraturadas, pelve quebrada e várias fraturas nas pernas.

Inicialmente, os médicos acreditavam que ela ficaria paraplégica, mas, após meses de tratamento e reabilitação, Vesna recuperou a capacidade de andar, desafiando todas as expectativas.

Sua recuperação foi considerada um milagre médico, e ela retornou ao trabalho na JAT, embora em funções administrativas, já que a companhia não permitiu que voltasse a voar.

Contexto e Controvérsias

O incidente do voo JAT 367 ocorreu em um período de tensões políticas na Europa, particularmente na Iugoslávia, um país multiétnico que enfrentava conflitos internos entre seus diversos grupos étnicos.

A explosão foi inicialmente atribuída a nacionalistas croatas do movimento ustaše, que buscavam a independência da Croácia e haviam realizado outros ataques contra interesses iugoslavos.

No entanto, investigações posteriores levantaram dúvidas sobre a causa exata da explosão, com algumas teorias sugerindo falhas estruturais ou até mesmo um possível abate acidental por forças militares tchecoslovacas durante um exercício aéreo. Apesar dessas especulações, a versão oficial manteve-se como um atentado terrorista.

Outra controvérsia envolve a altitude da queda. Alguns especialistas questionaram se o avião estava realmente a 10.160 metros, sugerindo que a altitude poderia ser menor, com base em dados de tráfego aéreo e relatos de testemunhas. Mesmo assim, o caso de Vesna permanece registrado no Guinness World Records como a maior queda sobrevivida sem paraquedas.

Vida Após o Acidente

Vesna Vulović tornou-se uma figura icônica na Iugoslávia, sendo celebrada como um símbolo de resiliência e sobrevivência. Sua história inspirou músicas, documentários e artigos em todo o mundo.

Apesar da fama, ela manteve uma postura humilde, atribuindo sua sobrevivência a uma combinação de sorte e fatores externos, como o terreno onde caiu. Em entrevistas, Vesna frequentemente mencionava que não tinha memória do acidente, o que talvez a tenha ajudado a lidar com o trauma.

Na década de 1990, com a dissolução da Iugoslávia e as guerras nos Bálcãs, Vesna envolveu-se em ativismo político, defendendo a democracia, a paz e a reconciliação entre os povos da região.

Ela participou de protestos contra o regime de Slobodan Milošević e tornou-se uma voz respeitada em sua comunidade. No entanto, sua vida pessoal foi marcada por dificuldades, incluindo problemas financeiros e isolamento após a aposentadoria.

Vesna faleceu em 23 de dezembro de 2016, aos 66 anos, em seu apartamento em Belgrado, onde vivia sozinha. Sua morte foi descoberta por amigos que, preocupados com sua falta de contato, arrombaram a porta.

A causa oficial da morte não foi amplamente divulgada, mas especula-se que tenha sido por causas naturais. Sua partida foi lamentada por muitos na Sérvia e além, com tributos destacando sua coragem e seu impacto cultural.

Legado

A história de Vesna Vulović continua a fascinar e inspirar, sendo frequentemente citada em discussões sobre sobrevivência, resiliência humana e os limites do corpo. Sua experiência também levanta questões sobre segurança aérea e a investigação de acidentes, especialmente em contextos politicamente sensíveis.

Documentários e livros continuam a explorar sua vida, e sua história permanece como um testemunho do poder da esperança e da capacidade de superar adversidades inimagináveis.

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