Israel Kamakawiwo'ole


 

Em 1988, numa madrugada tranquila, o telefone do estúdio de gravação em Honolulu, no Havaí, tocou às 3 da manhã. Do outro lado da linha estava Israel Kamakawiwo'ole, um talentoso músico havaiano cuja voz suave e alma gentil já encantavam muitos.

Com urgência na voz, ele disse ao dono do estúdio, Milan Bertosa, que precisava gravar uma música imediatamente - uma ideia que não podia esperar o nascer do sol. Bertosa, ainda sonolento, concordou, e apenas 15 minutos depois, Israel chegou ao estúdio.

Quando a porta se abriu, Milan ficou impressionado: "E entra o maior ser humano que eu já vi". Israel, conhecido carinhosamente como "Iz" por amigos e fãs, era uma figura imponente, não apenas por seu tamanho físico - ele pesava cerca de 340 quilos na época -, mas também pela presença calorosa e magnética que preenchia o ambiente.

Apesar da hora inusitada, ele trazia consigo seu ukulele e uma energia quase mágica, como se soubesse que algo especial estava prestes a acontecer. Milan, acostumado a trabalhar com artistas de todos os tipos, preparou o estúdio rapidamente.

"Coloco microfones, faço um teste de som rápido, rolo a fita, e a primeira coisa que ele faz é 'Somewhere Over the Rainbow'. Tocou e cantou, só um take e acabou-se."

Não houve necessidade de repetições ou ajustes. Israel sentou-se, dedilhou seu ukulele com delicadeza e deixou sua voz fluir, misturando a melodia clássica de Somewhere Over the Rainbow com trechos de What a Wonderful World.

O resultado foi uma interpretação tão pura e emocionante que parecia carregar os sonhos e a alma do Havaí em cada nota. Aquela gravação, feita em uma única tomada, tornou-se lendária.

Lançada anos depois no álbum Facing Future (1993), a versão de Israel Kamakawiwo'ole conquistou o mundo. Sua simplicidade despojada e a emoção crua na voz tocaram milhões de corações, transformando a canção em um símbolo de esperança e serenidade.

Hoje, mais de três décadas após aquela madrugada inspirada, a versão de "Iz" é a mais pedida e reconhecida dessa clássica canção, frequentemente escolhida para trilhas sonoras de filmes, casamentos e momentos de reflexão.

Israel, que faleceu em 1997 aos 38 anos devido a complicações de saúde relacionadas à obesidade, deixou um legado que transcende gerações. Sua música continua a ecoar como um lembrete da beleza da simplicidade e do poder de uma voz que, mesmo vinda de um pequeno estúdio às 3 da manhã, alcançou o mundo inteiro.

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