George Mallory o Alpinista


 

Em 1º de maio de 1999, o alpinista americano Conrad Anker fez uma descoberta surpreendente enquanto escalava a encosta norte do Monte Everest, a montanha mais alta do mundo, situada na cordilheira do Himalaia. Durante sua ascensão, ele avistou o que inicialmente julgou ser uma grande laje de rocha plana, destacando-se na paisagem gélida e implacável da montanha.

No entanto, ao aproximar-se para examiná-la mais de perto, Anker percebeu, com um misto de espanto e reverência, que não se tratava de uma formação rochosa, mas sim das costas expostas de um corpo humano.

Era George Mallory, o lendário explorador britânico que desaparecera misteriosamente na mesma montanha cerca de 75 anos antes, em 8 de junho de 1924, durante uma expedição que poderia ter feito dele a primeira pessoa a alcançar o cume do Everest - um feito que, até hoje, permanece envolto em debate e incerteza.

A passagem implacável do tempo havia deteriorado grande parte das roupas de Mallory, reduzindo-as a fiapos esfarrapados pelo vento cortante e pela exposição prolongada aos elementos.

Contudo, as condições extremas e geladas do Everest, com temperaturas que frequentemente caem abaixo de -30°C, atuaram como uma cápsula do tempo natural, preservando notavelmente o corpo do alpinista.

A pele, embora ressecada e endurecida pelo frio, ainda mantinha traços reconhecíveis, e os restos de seu equipamento - cordas, botas e outros itens essenciais para a escalada - estavam espalhados ao seu redor, oferecendo pistas valiosas sobre seus últimos momentos.

A análise do corpo revelou detalhes trágicos e comoventes. Mallory sofrera ferimentos graves: sua perna direita e seu braço direito estavam quebrados, provavelmente resultado de uma queda violenta durante a escalada.

Um piolet, a ferramenta essencial dos montanhistas da época, foi encontrado próximo a ele, cravado no gelo, sugerindo que ele tentara se segurar ou frear sua queda.

A posição em que foi encontrado, no entanto, indicava que seus esforços foram em vão. Especialistas que examinaram a cena acreditam que a morte de Mallory não foi instantânea.

Antes de sucumbir ao frio e aos ferimentos, ele aparentemente cruzou a perna esquerda, ainda intacta, sobre a perna direita quebrada, numa tentativa instintiva de aliviar a dor lancinante que devia estar sentindo.

Esse gesto final, ao mesmo tempo simples e profundamente humano, reflete a consciência desesperadora de que não havia esperança de resgate em um ambiente tão hostil e isolado, a mais de 8.000 metros de altitude.

A descoberta de Mallory reacendeu o fascínio mundial por sua história e pela questão que perdura há quase um século: teria ele, ao lado de seu parceiro de escalada Andrew "Sandy" Irvine, alcançado o cume do Everest antes de desaparecer?

A ausência de uma câmera que Mallory carregava - um artefato que poderia conter fotos do topo e resolver o mistério - mantém a especulação viva. Irvine, cujo corpo nunca foi encontrado, permanece como outra peça perdida desse quebra-cabeça histórico.

Juntos, eles desafiaram os limites da resistência humana em uma era de equipamentos rudimentares, sem oxigênio suplementar ou tecnologia moderna, movidos apenas por determinação e um desejo ardente de conquistar o inexplorado.

A morte de Mallory, embora trágica, é um testemunho da coragem e do espírito aventureiro que o levaram a arriscar tudo em nome da exploração. Sua última escalada, imortalizada por aquela frase célebre dita antes da expedição - "Porque ele está lá" -, continua a inspirar gerações de alpinistas e a lembrar-nos do preço que alguns pagam para tocar o céu.

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