As diferenças


 

Nos últimos dias, um boato tem dominado as conversas nas redes sociais: os passaportes americanos de duas deputadas trans teriam sido emitidos com seus nomes de registro, associados ao sexo masculino, e não com os nomes que elas adotaram em suas identidades de gênero.

Independentemente da veracidade dessa informação, o que chama atenção é a reação de parte da sociedade, que parece se dividir entre indignação, apoio ou simples confusão.

Para muitos, a notícia é tratada como uma afronta ou uma contradição, enquanto outros enxergam nisso apenas mais um capítulo na complexa discussão sobre identidade, burocracia e aceitação.

Na minha humilde opinião, esse caso é como uma metáfora que eu gosto de usar: lembra aquelas zebras de listras brancas que, de repente, decidem odiar as zebras de listras pretas, mesmo sendo, no fundo, todas zebras.

A essência da discussão parece se perder em detalhes que, embora importantes para alguns, desviam o foco de algo maior: a convivência humana.

Por que gastamos tanto tempo apontando diferenças, quando poderíamos buscar formas de construir pontes? A humanidade chegou a um ponto em que a identidade individual se tornou um campo de batalha.

De um lado, há quem defenda a liberdade de ser quem é, com nome, gênero e expressão que reflitam sua verdade. De outro, há quem veja essas mudanças como uma ameaça a normas estabelecidas ou uma confusão desnecessária.

No meio disso tudo, a burocracia, como os passaportes em questão, muitas vezes reflete sistemas que ainda não acompanharam a evolução das demandas sociais. E, enquanto isso, o debate público se polariza, com cada lado gritando mais alto, mas ouvindo menos.

Se me permite ir além, acredito que o cerne dessa questão não está apenas nos passaportes ou nos nomes, mas em como lidamos com o diferente. A história nos mostra que sempre houve resistência a mudanças que desafiam o status quo – seja o direito das mulheres ao voto, a abolição da escravatura ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Talvez o que esteja em jogo agora seja a nossa capacidade de aceitar que a identidade é algo fluido, pessoal e, acima de tudo, humano. E, enquanto discutimos documentos, talvez devêssemos nos perguntar: o que realmente importa? Um pedaço de papel ou a dignidade de quem carrega esse papel?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As Amantes de Soldados Alemães

Cumplicidade

O Homem de Bem e o Canalha

O Combate Sem Tréguas do Existir

Conheça Ötzi, o Homem do Gelo

O Cachorro e o Leopardo: Uma História de Sobrevivência e Instinto

O Oposto

Sujeira Suprema

Edimburgo dos Sete Mares: A Cidade Mais Isolada do Planeta

Irene Weiss: A Sobrevivente que Não Chorou em Auschwitz