Mehran Karimi Nasseri o verdadeiro Viktor Navorski no filme O Terminal


 

No filme O Terminal, Tom Hanks dá vida a Viktor Navorski, um cidadão do fictício país Krakozhia que fica preso no Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York, após um golpe de Estado em sua nação natal invalidar seu passaporte.

Sem poder entrar nos Estados Unidos ou retornar ao seu país, Navorski se torna, essencialmente, um homem sem pátria. Ele então passa a viver no terminal do aeroporto, adaptando-se às circunstâncias com resiliência e criatividade.

Embora a trama seja uma obra de ficção, ela se inspira, de maneira distante, na impressionante história real de Mehran Karimi Nasseri. Entre 1988 e 2006, Nasseri viveu no Terminal 1 do Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, França, por incríveis 18 anos.

Iraniano de nascimento, ele alegava ter sido expulso de seu país natal e, ao chegar à Europa, não possuía documentos válidos para comprovar sua identidade ou obter asilo. Preso em um limbo jurídico internacional, Nasseri foi impedido de deixar o aeroporto e acabou transformando o local em seu lar improvável.

Durante esse período, ele sobreviveu graças à solidariedade de funcionários do aeroporto, que lhe forneciam vales-refeição, e de comissárias de bordo, que lhe entregavam itens de higiene descartados por passageiros da primeira classe.

Surpreendentemente, Nasseri parecia ter encontrado uma forma de aceitação em sua vida atípica. Em uma entrevista, ele chegou a declarar: "O aeroporto não é ruim... Vejo passageiros diferentes todas as semanas, vindos de todos os cantos do mundo."

Ele passava os dias lendo livros, escrevendo em cadernos e observando o movimento incessante ao seu redor. Sua história ganhou notoriedade internacional, e ele se tornou uma figura quase lendária, apelidada de "Sir Alfred" por alguns, em referência ao nome que ele próprio adotou.

A vida de Nasseri no aeroporto terminou em 2006, quando, após anos de negociações legais, ele foi internado em um hospital devido a problemas de saúde.

Posteriormente, foi transferido para um abrigo em Paris, onde viveu seus últimos anos até falecer em 2022, curiosamente, de volta ao mesmo Aeroporto Charles de Gaulle, onde passou quase duas décadas.

Sua trajetória é um testemunho fascinante de resistência humana e da capacidade de adaptação às situações mais extraordinárias, além de levantar reflexões sobre identidade, pertencimento e os sistemas burocráticos que regem o mundo moderno.

Essa narrativa, tanto na ficção de O Terminal quanto na realidade de Nasseri, nos convida a pensar sobre o que significa "casa" e como, mesmo nas condições mais adversas, é possível encontrar um senso de normalidade e propósito.

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