Lágrimas de velório
Na
vida, muitas vezes, as pessoas não atravessam uma rua para te ajudar enquanto
estás vivo. Mas atravessam o mundo para te enterrar quando morres. E a maioria
das lágrimas derramadas no velório, infelizmente, não são de dor ou de pena,
mas de remorso e arrependimento.
Essa
é uma verdade dura que reflete a natureza humana: tendemos a valorizar mais o
que perdemos do que o que temos diante de nós. Enquanto estamos aqui,
respirando, lutando, rindo ou chorando, muitos passam ao largo, ocupados com
suas próprias vidas ou indiferentes às nossas batalhas.
Mas,
quando o fim chega, o peso da ausência parece despertar um senso de urgência
que antes não existia. Os mortos recebem mais flores do que os vivos porque, na
partida, há um vazio que clama por ser preenchido, uma tentativa de compensar o
que não foi dado em vida.
As
flores, com sua beleza efêmera, tornam-se símbolos de um carinho que talvez
tenha sido guardado por tempo demais, um gesto que chega tarde para ser sentido
por quem já se foi.
É
curioso como a morte tem o poder de reunir multidões, de arrancar discursos
emocionados e promessas tardias. Talvez seja o silêncio definitivo que nos
força a encarar o que poderíamos ter feito diferente.
As
flores levadas ao túmulo, os abraços apertados e as palavras bonitas muitas
vezes carregam um pedido mudo de perdão - não ao que se foi, mas a nós mesmos,
por não termos atravessado aquela rua simples quando ainda havia tempo.
E assim, a vida segue nos ensinando, com sua ironia sutil, que o verdadeiro valor está nas pequenas ações do dia a dia, nas mãos estendidas antes que o último adeus seja inevitável.
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