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"Deus é
grande,” grita talibã. E mata a tiros mulher acusada de adultério"
A Tragédia de Najiba: Uma Reflexão sobre a Violência contra Mulheres no Afeganistão
Na
interpretação extremista do Corão adotada pelo Talibã, um marido tem o direito
de matar sua esposa caso ela seja acusada de adultério. Essa visão distorcida,
que ignora princípios de justiça e humanidade presentes em muitas tradições
islâmicas, foi a justificativa para um ato brutal ocorrido em 2012, na
província de Parwan, próxima a Cabul, no Afeganistão.
A
agência Reuters divulgou um vídeo chocante que mostrava Juma Jan, um membro do
Talibã, executando sua esposa, Najiba, de 22 anos, sob a acusação de adultério.
O crime
ocorreu em um povoado rural, diante de dezenas de espectadores que assistiam à
execução pública. As imagens, gravadas por um celular, capturaram a jovem
sentada de costas, imóvel, enquanto ouvia a sentença de morte.
Najiba
não implorou por clemência, não tentou fugir, nem emitiu qualquer som de
desespero. Sua postura, de uma dignidade quase incompreensível diante do
horror, reflete a resignação de quem vive em um sistema que desumaniza e
desvaloriza as mulheres.
Segundo
relatos, Najiba teria sido acusada de manter um relacionamento com um líder de
outro grupo talibã. Juma Jan, seu marido, citou versículos do Corão que, em sua
interpretação, condenam o adultério. Gritando “Allahu Akbar” (Deus é grande),
ele disparou duas vezes com um fuzil Kalashnikov, errando os primeiros tiros.
Mesmo
após os disparos iniciais, Najiba permaneceu sentada, sem demonstrar medo. Ele
então disparou novamente, acertando-a na cabeça. A jovem caiu, e seu corpo
inerte foi recebido com aplausos e gritos de aprovação por parte da multidão, que
ecoava a ideia de que o Corão justificava a punição pela “traição conjugal”.
O
vídeo, que circulou brevemente na internet antes de ser removido de plataformas
como o YouTube por violar políticas contra conteúdo violento, chocou o mundo.
A
execução de Najiba não foi um caso isolado, mas um reflexo da violência
sistemática contra mulheres no Afeganistão sob o domínio do Talibã. Após a
queda do governo afegão em 2021, o Talibã retomou o poder, intensificando
restrições aos direitos das mulheres, como o acesso à educação, ao trabalho e à
liberdade de movimento.
Casos
como o de Najiba expõem a brutalidade de um sistema que usa interpretações
seletivas da religião para justificar a opressão e a violência de gênero.
O
Ministério do Interior do Afeganistão, na época do incidente, prometeu
investigar o que descreveu como um “ato anti-islâmico e desumano cometido por
assassinos profissionais”.
A
declaração, no entanto, soa vazia em um contexto onde a impunidade para crimes
contra mulheres é generalizada. O caso gerou indignação global, com protestos
de organizações humanitárias e ativistas pelos direitos das mulheres, que
denunciaram a misoginia estrutural no Afeganistão e a necessidade de ações
concretas para proteger as mulheres.
A
história de Najiba é mais do que um relato de violência; é um grito silencioso
contra um sistema que desvaloriza a vida das mulheres. Sua postura estoica
diante da morte pode ser interpretada não como aceitação passiva, mas como um
ato final de resistência.
Em um
mundo que a condenava por ser mulher, Najiba enfrentou sua execução com uma
força que desafia a narrativa de submissão imposta pelo Talibã.
Sua
morte é um lembrete doloroso da luta contínua pela igualdade de gênero e pelos
direitos humanos em regiões onde a opressão é institucionalizada. Por que
contar essa história?
Porque
o silêncio de Najiba ecoa como um chamado à ação. Honrar sua memória exige que
lutemos contra a desumanização das mulheres, que amplifiquemos suas vozes e que
trabalhemos por um mundo onde nenhuma mulher precise escolher entre a morte e a
subjugação.
Najiba não morreu apenas por um suposto adultério; ela foi vítima de um sistema que transforma mulheres em alvos de violência e controle. Sua história deve nos inspirar a combater a injustiça, onde quer que ela ocorra.
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