Coisas estranhas e absurdas da bíblia




O relato de Noé embriagado e suas consequências, descrito em Gênesis 9:20-29, é um dos episódios mais curiosos e debatidos da Bíblia. De um lado, temos um homem considerado justo e escolhido por Deus para preservar a humanidade e os animais no episódio do Dilúvio.

Do outro, vemos esse mesmo homem cometendo um erro comum e humano: embriagar-se. O desdobramento disso, porém, leva a um desfecho que muitos consideram desproporcional, incompreensível e até cruel. Vamos analisar os pontos mais intrigantes dessa narrativa:

A Contradição de Noé como Figura Santa

Noé, que era agricultor, decide plantar uma vinha e fazer vinho após o Dilúvio. Sua embriaguez e comportamento subsequente não condizem com a imagem de um homem irrepreensível.

Esse contraste humano - entre um escolhido de Deus e suas falhas - é um tema recorrente na Bíblia, mas, neste caso, a reação de Noé ao acordar parece especialmente despropositada.

A Maldição de Canaã, Neto de Noé

Cam, pai de Canaã, viu o pai nu e contou aos irmãos. Noé, ao acordar e descobrir o ocorrido, não amaldiçoa diretamente Cam, que cometeu a "ofensa", mas sim seu neto, Canaã. Isso gera muitas perguntas:

Por que Noé não amaldiçoou Cam, o autor da suposta afronta?

Canaã, que não aparece diretamente na narrativa até então, torna-se alvo de uma punição severa e permanente. O motivo por trás dessa escolha permanece um mistério.

Uma Reação Exagerada?

Noé amaldiçoa Canaã para ser "escravo de escravos" para os irmãos de Cam, Sem e Jafé. Essa decisão extrema parece desproporcional ao "crime". Afinal, Cam não roubou, não agrediu, nem insultou Noé diretamente - apenas viu sua nudez e informou os irmãos.

Enquanto isso, Sem e Jafé, que respeitosamente cobriram o pai sem olhar, são abençoados. A moralidade dessa situação é difícil de justificar.

Interpretações e Contextos Históricos

Muitos estudiosos sugerem que o texto reflete mais os interesses e as tensões políticas e sociais do momento em que foi escrito do que um evento histórico literal.

A maldição de Canaã pode ter sido usada para justificar a subjugação de certos povos na antiguidade, como os cananeus, pelos israelitas, descendentes de Sem. Essa hipótese coloca o relato em um contexto mais político do que espiritual.

A Humanidade de Noé

Este episódio revela um Noé profundamente humano: ele trabalha, planta, bebe, comete erros e reage de forma impulsiva. Isso, contudo, coloca em questão a justiça divina na escolha de "heróis" falíveis e no uso de punições coletivas - algo recorrente no Antigo Testamento.

Reflexão Final:

O relato de Noé nos leva a questionar as dinâmicas de poder, moralidade e justiça na Bíblia. Por que Deus permitiu que uma figura central agisse de maneira tão questionável?

Será que a narrativa quer destacar a imperfeição humana, mesmo entre os escolhidos? Ou seria apenas uma justificativa antiga para uma estrutura social de dominação?

A "estupidez", não é apenas de Noé - parece ser um traço que perpassa muitos relatos humanos e divinos nas Escrituras. Talvez essa história exista justamente para nos fazer refletir sobre os limites do julgamento humano e a complexidade das ações divinas.

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