Não vou por ai!


Ah, que ninguém me ofereça piedosas intenções, ninguém me peça definições! Não me encaixo em fórmulas, nem em frases feitas. Sou o verbo em ebulição, a interrogação sem resposta. Não quero que me digam o que é certo, o que é belo, o que é bom. Não aceito setas nas encruzilhadas, nem trilhas já pisadas.

Não me apontem: “Vem por aqui”! Minha vida é um vendaval que se soltou de todas as amarras, é uma onda que se ergueu contra o céu, sem medo de quebrar. Sou um átomo vibrando em liberdade, uma centelha que se recusa a apagar.

Não sei por onde vou, não sei para onde vou - sei apenas que não vou por aí! E que não me venham com mapas traçados, com rotas seguras ou conselhos sensatos! O mundo mudou, mas não o bastante.

As cidades queimam em neon e desespero, as vozes se multiplicam em coro surdo. As guerras continuam, agora disfarçadas em discursos, em algoritmos, em promessas.

Mas eu... eu caminho com a alma nua, indiferente às estruturas do medo. Quero o risco do incerto, o peso do agora, o pulsar do instante que não se demora.

Quero tropeçar nos próprios passos e rir. Quero me perder para, talvez, me reinventar. Aceito a dor da escolha porque nela reside a semente da criação. Minha alma não cabe em moldes alheios, não se curva a promessas de falsos anseios, não adorna máscaras de civilidade sem sentido.

Sou o grito que ecoa na noite sem fim, sou o passo que dança onde ninguém jamais ousou pisar. Os acontecimentos do mundo - as guerras, as glórias, as vozes sem fundo - passam por mim como ventos que não me detêm.

Vi a queda de muros, a construção de prisões invisíveis, vi o amor ser transformado em moeda, a verdade em mercadoria. E ainda assim, carrego o meu próprio caos, o meu próprio além.

Não sou produto do tempo nem do lugar. Sou o instante rebelado, o silêncio que explode. Que me deixem seguir, sem rédeas, sem lei, pois só no abismo

do eu é que encontro o que sei - e às vezes, sequer sei se sei, mas isso pouco importa, pois é real.

Que não me peçam calma, nem coerência. Meu sentido é busca. Meu abrigo é a travessia. Minha fé é a vertigem. E se por acaso um dia eu cair,
que seja com as mãos sujas de barro e o coração pleno de verdade.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Campos de Concentração no Ceará

Teresa Cristina de Bourbon

O Homem no Limite

Tempo: um ser difícil

A Origem da Caneta Esferográfica

As Lágrimas

O acendedor de lampiões

A Relatividade do Perigo

Curiosidades entre o morto e o idiota

Não entendo, apenas sinto