Olha-me de novo


Se te pareço noturna e imperfeita, olha-me de novo. Porque esta noite olhei-me a mim, como se tu me olhasses.

E era como se a água desejasse escapar de sua casa que é o rio e deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo entendo que sou terra. Há tanto tempo espero que o teu corpo de água mais fraterno, se estenda sobre o meu. Pastor e nauta olham-me de novo. Com menos altivez. E mais atento. (Hilda Hilst)

Hilda Hilst (1930–2004) foi uma escritora, poetisa e dramaturga brasileira, considerada uma das mais importantes e inovadoras autoras da literatura nacional do século XX. Sua obra transita entre poesia, ficção, crônica e teatro, abordando temas como a metafísica, o erotismo, a morte e a loucura.

Vida e Formação

Nascida em Jaú, São Paulo, em 21 de abril de 1930, Hilda de Almeida Prado Hilst era filha de um fazendeiro e de uma mãe culta e refinada. Seu pai, Apolônio de Almeida Prado Hilst, sofria de esquizofrenia, o que influenciou profundamente a escritora, tanto em sua visão de mundo quanto em sua obra.

Hilda estudou Direito na Universidade de São Paulo (USP), onde conheceu intelectuais como Lygia Fagundes Telles, que se tornou sua grande amiga. Apesar de formada em 1952, logo abandonou o direito para se dedicar integralmente à literatura.

Carreira Literária

Sua estreia na literatura aconteceu em 1950, com o livro de poemas Presságio. Inicialmente, sua escrita era marcada por uma intensa espiritualidade e um tom existencialista.

Nos anos 1960, mudou-se para a Casa do Sol, um sítio em Campinas, onde viveu até sua morte e onde recebeu diversos escritores e artistas.

Nos anos 1970, passou a se dedicar à prosa, publicando obras inovadoras como Fluxo-Floema (1970) e A Obscena Senhora D (1982), que exploram fluxos de consciência e uma linguagem experimental.

A partir dos anos 1990, incorporou um erotismo intenso e transgressor em livros como O Caderno Rosa de Lori Lamby (1990), explorando os limites entre o sagrado e o profano.

Temas e Estilo

A escrita de Hilda Hilst é caracterizada pelo uso de linguagem densa, poética e inovadora. Sua obra é marcada pela busca de respostas filosóficas sobre a existência, a religiosidade e a condição humana. Também desafiou tabus, especialmente ao tratar do corpo, da sexualidade e da morte.

Reconhecimento e Legado

Apesar de ter sido marginalizada pelo mercado editorial durante muito tempo, Hilda Hilst recebeu importantes prêmios, como o Jabuti e o Prêmio APCA. Após sua morte, em 4 de fevereiro de 2004, sua obra passou a ser mais reconhecida, sendo relançada e estudada em diversas universidades.

A Casa do Sol, onde viveu, tornou-se um centro de preservação de sua memória e um espaço de incentivo à literatura e à arte. Hoje, Hilda Hilst é considerada uma das vozes mais potentes e inovadoras da literatura brasileira, influenciando novas gerações de escritores.

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