Se quer saber o caráter de um homem, dê-lhe poder: o caso de Lula
A máxima atribuída a Abraham Lincoln - "Se quer
saber o caráter de um homem, dê-lhe poder" - parece encontrar eco na
trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente e atual mandatário do
Brasil.
Lula é frequentemente apresentado como um símbolo de
superação: nascido na miséria, em uma família numerosa do interior de
Pernambuco, ele migrou para São Paulo ainda jovem, amontoado em um caminhão
"pau-de-arara", como tantos nordestinos em busca de sobrevivência no
Sudeste.
Sua história inicial é, sem dúvida, marcada por
adversidades que poucos conseguiriam transpor. De metalúrgico a líder sindical,
ele construiu uma narrativa de luta que o catapultou à presidência do país em
2003.
No entanto, o que poderia ser uma saga inspiradora é,
para muitos, ofuscado por um legado de controvérsias e contradições que revelam
um caráter questionável quando confrontado com o poder.
Lula passou boa parte da vida menos no trabalho braçal
e mais na articulação política. Após perder um dedo em uma fábrica, sua
trajetória se voltou aos sindicatos, onde encontrou palco para sua oratória
carismática e capacidade de mobilização.
Dali para a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT)
e a entrada na política foi um salto natural. Chegar à presidência como um
outsider, sem diploma ou origem elitista, foi um feito raro, mas o que fez com
esse poder é o que divide opiniões.
Durante seus mandatos (2003-2010), o Brasil viveu um
boom econômico impulsionado por commodities, e programas sociais como o Bolsa
Família reduziram a pobreza extrema. Contudo, o brilho desse período foi
manchado por escândalos de corrupção que emergiram como sombras persistentes.
O Petrolão, revelado pela Operação Lava Jato, expôs um
esquema bilionário de desvios na Petrobras, envolvendo empreiteiras, políticos
e aliados de Lula.
Ele próprio foi condenado em 2017 por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, sendo preso em
2018 por quase dois anos.
Apesar das provas, depoimentos e decisões em múltiplas
instâncias judiciais, Lula mantém uma negação obstinada, proclamando inocência
com uma convicção que muitos enxergam como descaramento.
Sua libertação, em 2019, e a posterior anulação de
suas condenações em 2021 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) reacenderam o
debate: foi justiça ou manipulação?
A maioria dos ministros que votaram a seu favor havia
sido indicada por ele ou por sua sucessora, Dilma Rousseff, o que alimenta a
tese de um "aparelhamento" do sistema - uma estratégia de longo prazo
para blindar interesses políticos.
Hoje, de volta à presidência desde 2023, Lula fala
como se o passado fosse uma página em branco, tratando críticos e céticos com
uma retórica que soa condescendente, quase como se subestimasse a inteligência
alheia.
Para seus detratores, ele governa com a arrogância de
quem se acredita intocável, enquanto seus apoiadores o veem como vítima de
perseguição. Essa polarização reflete não apenas a figura de Lula, mas também a
fragilidade das instituições brasileiras, que parecem oscilar entre a
imparcialidade e a influência política.
Seu caráter, descrito por críticos como desprezível,
se manifesta na habilidade de transformar denúncias em vitimismo e poder em
impunidade, um traço que enoja muitos, mas encanta outros tantos.
Na opinião de milhares - "cada um tem os
políticos que merece" - carrega um peso filosófico. Lula é, em parte, um
espelho da sociedade que o elegeu: marcada por desigualdades, paixões políticas
e uma memória seletiva.
Se o poder revela o caráter de um homem, talvez revele também o de uma nação. Enquanto Lula segue no comando, o Brasil continua a debater se sua história é de redenção ou de ruína, e até que ponto estamos dispostos a tolerar líderes cujas ações desafiam os limites da ética e da verdade.
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