De onde surge a ideia de Deus? - No nosso mundo ocidental -
como de resto em todas as demais nações embora com lendas diferentes - somos
bombardeados desde os primeiros anos na infância por nossos pais, amigos, parentes,
escolas, etc., com uma imensa série de historietas, contos, lendas e fatos.
Como o cérebro da criança é
indefeso e não tem como investigar e indagar a validade de tais estórias e como
muitas delas são geralmente apresentadas não apenas para atrair atenção dessa
criança, sobretudo porque se apresentam com enredos e temas curiosos,
divertidos, assustadores e alegres (quaisquer que elas sejam, tanto para
assustar com punições, como para divertimento e entretenimento), por tudo isso
essa criança tende a acreditar em tudo o que lhe é contado.
Há ainda que levar em conta
que esse cérebro infantil possui a característica do "imprint", isto
é, aquela condição genética que leva o recém-nascido (pássaros, mamíferos,
insetos, etc.) a marcar em sua mente certos aspectos da vida que permanecem
indeléveis para o resto da existência dessa ou daquela espécie em
particular.
Consequentemente,
a ideia da existência de um Deus poderoso que nos protegerá contra a
morte, como a ideia de um Papai Noel que nos trará presentes durante
a noite, são condicionamentos poderosos no cérebro infantil.
Um fenômeno idêntico, por
exemplo, ocorre com os patinhos recém nascidos, que identificam a mãe pata,
porque esta é a primeira coisa que se mexe e se movimenta em sua frente no
ninho escondido.
Pode-se argumentar que a
crença num Papai Noel desaparece com uma idade maior da criança e que,
portanto, Deus não pode ser comparado como uma lenda natalina, que desaparece
depois de alguns anos. Mas há aqui, entretanto, um erro de percepção.
A ideia do Papai
Noel desaparece, porque na meninice logo as demais crianças mais adultas fazem
com que a criança menor e ainda inocente constate que esse divertido personagem
realmente não existe.
E com o exemplo dos mais
velhos, a ingênua criança que acredita no Papai Noel, em pouco tempo deixa tal
crença de lado.
No caso da existência de
Deus, entretanto, a condição e a situação são diferentes, porque tal crença
permanece e é alimentada, repetida e instilada todos os dias por todo o mundo,
de modo que a criança não possui nesse caso um contra-argumento ou pessoas
insistentes de sua idade e companheiros de brincadeiras, que logo destruam a
crença natalina nesse Papai Noel maior que aprendem a chamar de Deus.
Tal imprint, portanto, é o
ponto de partida poderoso inicial, que leva a criança desde muito cedo a estar
predisposta a acreditar no indivíduo misterioso e poderoso que todos os adultos
acreditam.
Mario Giudicelli
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